Geraldo Nunes Silva - Presidente (2010 - 2011)
Eliana X. L. de Andrade - Secretária Geral (2010 - 2011)
Primeiramente, gostaríamos de destacar alguns aspectos da história da Matemática no Brasil. Em 1811, na época do Império, começou a funcionar no Rio de Janeiro a Academia Real Militar onde foi criado um curso de Ciências Físicas, Matemáticas e Naturais, com duração de quatro anos. Para dar aulas de matemática, foi contratado o professor José Saturnino da Costa Pereira (1773-1852), que havia feito o curso de Matemática na Universidade de Coimbra em Portugal. A Academia foi transformada em Escola Militar da Corte em 1939 e, em 1942, foi instituído o grau de doutor em Ciências Matemáticas. Em 1848, o primeiro doutorado foi concedido ao jovem maranhence Joaquim Gomes de Souza (1829-1864), o "Souzinha" (veja http:/www.ima.mat.br/ubi/pdf=uda_005.pdf para mais detalhes). No final do século 19 foram criadas as Escolas Politécnicas. A primeira faculdade de Matemática no Brasil, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, só foi criada em 1934. Depois disso, vários outro cursos de Matemática (Pura) foram criados por todo o Brasil. Só recentemente os cursos de Matemática Aplicada começaram a despertar o interesse das Universidades.
Com o objetivo de se ter um órgão que coordenasse e orientasse a produção científica brasileira, foi criado o CNPq em 1951 (lei no 1.310 de 15 de janeiro). A Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (atual CAPES) foi criada em 11 de julho de 1951, pelo Decreto no 29.741, com o objetivo de assegurar a existência de pessoal especializado em quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades dos empreendimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento do país. Em 1954 o Brasil entra na IMU - União Matemática Internacional e, em 1957 é realizado o Primeiro Colóquio Brasileiro de Matemática. Dez anos mais tarde, em 1967, foi lançada a Escola Latino-Americana de Matemática.
A fundação da primeira sociedade científica que congregasse os matemáticos do Brasil, a Sociedade Brasileira de Matemática - SBM, aconteceu em 1969. Com o passar dos anos, os matemáticos que trabalhavam com as aplicações da Matemática, os chamados "Matemáticos Aplicados", sentiram a necessidade de ter um órgão que os congregasse e representasse. Assim, em 1978, foi fundada a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional - SBMAC. Isso ocorreu durante o 1º Simpósio Nacional de Cálculo Numérico, realizado nas dependências do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte (MG), com um número expressivo de participantes, muito maior do que previam os organizadores. Esse simpósio passou a chamar-se, a partir de sua terceira edição, Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional - CNMAC e continuou a ser realizado anualmente até 2010, ano em que ocorreu o XXXIII CNMAC. A partir daí, o CNMAC passa a ser realizado a cada dois anos e, em 2012, será a sua 34ª edição.
Depois deste breve histórico, passemos aos cursos de Matemática atualmente em funcionamento no Brasil.
De acordo com o Censo da Educação Superior do ano de 2009 realizado pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e atualizado por pesquisas feitas em sites de universidades brasileiras, existem, no Brasil, poucas instituições de ensino superior que oferecem cursos de graduação voltados à Matemática Aplicada (aqui incluídos os cursos de Matemática Industrial e Matemática Computacional), como podemos ver na tabela abaixo. Em compensação, o número de instituições que oferecem cursos de Licenciatura em Matemática é significativamente grande, correspondendo a aproximadamente 88% dos cursos de formação em Matemática no Brasil.
Cursos | Federal | Estadual | Municipal | Particular | Comum/ Confes/Filant |
Total |
---|---|---|---|---|---|---|
Formação de prof de Matemática | 117 | 129 | 25 | 164 | 130 | 564 |
Matemática | 34 | 9 | 1 | 12 | 12 | 68 |
Matemática Aplicada | 3 | 3 | - | 1 | 1 | 8 |
Matemática Computacional | 6 | 3 | - | 1 | 2 | 12 |
Matemática Industrial | 3 | - | - | - | - | 3 |
Assim, de acordo com a tabela acima, temos, no Brasil, apenas 23 cursos de graduação em Matemática Aplicada num total de 655 cursos relacionados à Matemática, ou seja, aproximadamente 3.5%, o que é, sem sombra de dúvida, um número muito pequeno. Mas, esse número é justificado se levarmos em consideração que a profissão de "matemático aplicado" ainda é novidade para a maioria dos jovens brasileiros, que costumam ver a Matemática como uma disciplina complicada e também relacionada somente à docência. Porém, nos últimos anos, vem crescendo o número de matemáticos que trabalham em grandes empresas. Com o objetivo de divulgar outras áreas (diferentes da docência) em que os matemáticos (não somente os aplicados) podem atuar, listaremos algumas das atividades em que o pro- fissional formado em matemática é sempre bem vindo.
Iniciaremos pelas instituições financeiras. Nessas empresas, é importante que os pro- fissionais tenham raciocínio lógico e habilidade para lidar com números, qualidades que a maioria dos matemáticos possui. Além disso, com o aumento da necessidade do uso de computadores, os matemáticos também podem atuar na área de desenvolvimento de softwares e sistemas bancários.
Uma outra área em que os matemáticos podem atuar é a de pesquisador em grandes empresas ou instituições públicas. Como exemplo, segundo dados do ex-presidente da Embrapa, Dr. Silvio Crestana, cerca de 95 matemáticos fazem parte do quadro de funcionários dessa empresa, sendo 74 graduados, 1 especialista, 12 mestres e 8 doutores. Alguns desses profissionais trabalham no desenvolvimento de modelos matemáticos voltados à agricultura como, por exemplo, na modelagem de pragas agrícolas, em modelos para representar o comportamento de pesticidas no ambiente e na simulação do crescimento de plantas, entre outros.
Outro exemplo interessante está relacionado às pesquisas meteorológicas e de previsão do tempo, onde a Matemática está presente através das simulações numéricas. Além disso, grandes empresas exploradoras de petróleo também precisam de matemáticos para realizar simulações numéricas, pois muitos problemas dessa área (como o escoamento de petróleo num tubo) são modelados através de equações diferenciais.
Na área médica, através da solução de modelos mecânico-biológicos, estão sendo realizadas pesquisas para antecipar, com razoável grau de precisão, resultados de importantes procedimentos médicos como ponte de safena e transplante renal, por exemplo. Os matemáticos também podem atuar como consultores em empresas privadas, geralmente no desenvolvimento de novos produtos, no estudo da otimização de vendas, no aumento da eficiência de um determinado produto, etc.
Muitas inovações, que foram cruciais para a mudança de comportamento da sociedade, utilizaram ferramentas matemáticas (puras ou aplicadas). Por exemplo, utilizando a Teoria dos Números, criou-se um algoritmo para criptografar dados que são, ainda hoje, indecifráveis e que nos permite fazer, com segurança, compras via internet, acessar dados bancários, etc. Porém, em todas as áreas de atuação do profissional em Matemática, exige-se conhecimento de outras áreas, como a Física, a Engenharia, a Biologia e a Administração, entre outras.
Chamamos a atenção para uma nova modalidade de cursos de Matemática: o Bacharelado em Matemática Industrial. O profissional denominado "matemático industrial" deve ter profundo conhecimento das metodologias e técnicas matemáticas (puras e aplicadas) e afins, e ser capaz de atuar em diversos setores, tanto público como privado. Em uma organiza ção, espera-se que o profissional trabalhe em equipes muiltidisciplinares, modelando matematicamente os problemas, propondo soluções, sempre visando o melhor desempenho, tanto da empresa como dos trabalhadores. O campo de trabalho do matemático industrial está em expansão no Brasil devido às exigências do mercado em aumentar a eficiência e diminuir os custos de produção.
Acreditamos que o crescimento da demanda pelo profissional em matemática ainda seja pequeno diante da grandiosidade das ferramentas matemáticas que temos para "tentar" modelar fenômenos físicos, meteorológicos, ambientais, biológicos, químicos, etc. Segundo o prêmio Nobel de Física Eugene Winger (1902 - 1995), em um artigo publicado em 1960, a eficácia da matemática na descrição e previsão de fenômenos naturais ultrapassa o razoável.
Este artigo tomou como base o artigo de mesmo nome de autoria da Profa. Vanessa Botta da FCT/UNESP/Campus de Presidente Prudente e Coordenadora Regional da SBMAC, publicado na Revista do Professor de Matemática Nº 72.